A inflação da alimentação dentro do lar foi mais do que o dobro da alimentação fora do lar, no acumulado dos últimos 12 meses até julho, uma das maiores na história desse indicador. E isso tem explicação.

A inflação para os alimentos consumidos fora do lar foi de 7,6% no período mencionado, enquanto para os alimentos consumidos no lar foi de 17,5%, uma diferença de 9,9 pontos percentuais. No extremo, num raciocínio forçado, poderia ser dito que, em termos relativos,  ficou mais barato alimentar-se com o que é feito fora do lar do que com o que é comprado e preparado no lar.

Essa diferença está se ampliando nos últimos meses e é estrutural. Tem a ver com o fato de que alimentos em si, os produtos usados na preparação das refeições, representam, em média, 30% do custo total. Os outros 70% são outros custos, especialmente serviços, mão de obra, aluguel, água, luz, entre outros, incluindo a margem e dependem dos diferentes conceitos entre restaurantes, fast-food, bares, casual dining, delivery etc.

Enquanto isso, para os alimentos comprados em supermercados, conveniência, atacarejos, feiras, mercearias e outros, o custo do alimento em si fica entre 70% e 80%. Já a parcela de outros custos e margem envolvidos oscilam entre 20% e 30%.

Com as pressões envolvendo a situação econômica nos últimos anos, apesar da recuperação do emprego, houve redução da renda real da população, como consequência do crescimento da inflação. Também foram realizados investimentos significativos para a melhoria da eficiência e produtividade nos setores envolvidos com a alimentação fora do lar, incorporando mais tecnologia, revendo processos e buscando alternativas para se tornarem mais competitivos.

Como resultado, apesar do aumento elevado da inflação dos alimentos, que também impacta o setor de alimentação fora do lar, o impacto é menor na ponta dos alimentos preparados fora do lar pela redução dos custos dos serviços e outros nos diversos formatos, canais e alternativas existentes.

Se olharmos a série histórica do comportamento da inflação de alimentos preparados dentro e fora do lar, vamos perceber que existe uma tendência de que o que é preparado fora do lar seja mais baixa do que é comprado para ser preparado e consumido no lar. Apenas em poucos momentos houve inversão desse comportamento.

Depois da atualização da metodologia a partir da ponderação dos dados da Pesquisa de Orçamento Familiares (POF) para cálculo desses indicadores, que ocorreu em 2020, essas diferenças ficaram maiores, retratando melhor a realidade e permitindo avaliar o que tem sido a busca de maior eficiência e produtividade nos setores ligados à alimentação fora do lar.  Importante lembrar que, na média nacional, as despesas com alimentação representam 38% do total dos dispêndios familiares, excluindo habitação e transporte.

Nessa análise, fica também a constatação de que a recuperação do emprego ainda não permitiu a recuperação da renda da população, que foi impactada pela inflação, gerando perda real, apesar do leve aumento da massa salarial, do número de empregados e dos microempreendedores individuais, que atingiram 13,5 milhões de negócios, com 87% dessas empresas com um só funcionário, segundo dados do Sebrae.

É relevante destacar os esforços pela melhoria da eficiência nos setores de alimentação fora do lar, diretamente impactado pelos problemas decorrentes da pandemia, com o fechamento de dezenas de milhares de pequenas e médias empresas.

De outro lado, é fundamental considerar que a inflação de alimentos, em particular os para preparo no lar, tem impacto direto nas percepções e na confiança dos consumidores, em especial os de baixa renda, que tendem a “pensar com o bolso” nas avaliações sobre perspectivas do presente e do futuro próximo com impacto direto nas suas decisões de toda natureza. Especialmente em período de eleições.

Nota. Os principais temas que impactam o varejo e o consumo no Brasil, no mundo e na América Latina, incluindo as discussões sobre indicadores econômicos e seus impactos serão tratados no Latam Retail Show, que acontecerá em versão figital de 13 a 15 de setembro. Serão mais de 200 palestrantes, mais de 100 horas de conteúdo e 8 pesquisas inéditas e exclusivas, que ajudam a decodificar a realidade emergente e contribuir para o repensar de caminhos para empresários, empreendedores, executivos e profissionais especialmente ligados a esses setores.


Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Marcos Gouvêa de Souza

Fonte: Portal | Mercado & Consumo

Foto: Reprodução