Um dos lugares mais antigos da capital abriga momentos importantes da memória, inclusive, nacional

Bastou a chegada do despacho telegráfico sobre a Proclamação da República para o assunto tomar de conta das ruas, praças, botequins e cafés de Fortaleza, no dia 16 de novembro de 1889. Um dia após a queda da Monarquia, no Rio de Janeiro, os cearenses viram o Estado aderir ao novo regime, há 133 anos.

Foi num sábado, às 14h, no Passeio Público. Imagine o local, hoje movimentado por passeios familiares ou de turistas, numa tensão para entender o novo rumo do País. Aquele dia foi registrado pelo historiador Eusébio de Sousa na Revista do Instituto do Ceará - 1934.

Quem estava lá viu o professor Manuel Bezerra de Albuquerque e um grupo de personalidades de destaque celebrarem a posse do primeiro presidente do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca. Ali também foi escolhido o primeiro governador do Ceará.

“Aclamaram chefe do Poder Executivo neste Estado o tenente-coronel Luiz Antonio Ferraz, que era, então comandante do 11º batalhão de infantaria”, detalha o registro histórico. Eusébio de Sousa contextualiza que o Passeio Público, a praça mais antiga da capital cearense, era bem conhecida.

Lá, nomes famosos como Padre Mororó, Pessoa Anta, Francisco Ibiapina, Azevedo Bolão e Feliciano Carapinima foram mortos na Confederação do Equador.

“Naquele soleníssimo instante, juntava à sua história estoutra página refulgente, não cheia de tão viva emoção como a de 1824, mas com a mesma finalidade, em prol do ideal republicano”, contou sobre a adesão do Ceará à Proclamação da República.

O movimento com som da banda de música do batalhão levou o novo governador, em passeata, até o palácio onde ficava o chamado presidente da Província, que na época era o coronel Morais Jardim. Manuel Bezerra foi quem anunciou a decisão para o coronel Jardim: “o povo e a tropa de mar e terra, reunidos na praça pública, acabam de acalmar o governador do Estado Livre do Ceará, o cidadão coronel Luiz Antonio Ferraz”, detalhou. Não houve resistência.

Morais Jardim questionou com insistência a Monarquia para entender o que estava acontecendo na metrópole, mas as perguntas tiveram apenas o silêncio como resposta. Por isso, decidiu discursar para a população. Ele disse aos cearenses que a ordem pública não deveria ser alterada para evitar “males incalculáveis", mas cedeu à vontade do povo imposta naquele momento. Ali, lágrimas caíram de seus olhos, como documentou Eusébio de Sousa.

Antes do discurso, Morais Jardim recebeu a notícia da Proclamação da República por meio de uma importante casa comercial da época, por onde chegou a comunicação. O despacho telegráfico era confuso, mas relatava um acontecimento importante:

Uma reunião foi convocada no palácio com a participação de comandantes da força pública, da escola militar, dos chefes das repartições públicas, autoridades de terra e mar, além de comerciantes.

O presidente expôs a situação e pediu apoio do grupo para manter a ordem pública, ainda sem entender ao certo os acontecimentos e a movimentação que já acontecia em Fortaleza. De frente para a população, Morais Jardim entendeu que não havia saída.

Em meio ao discurso, um homem - oficial de polícia chamado Artur Saboia de Alencar -  subiu numa cadeira, sacou um punhal e rasgou o retrato de Dom Pedro II da galeria do Palácio. O ato foi desaprovado pela multidão, mas Jardim deixou o local.

O espaço foi inaugurado por volta de 1880 e era um local de convivência, onde a elite ia após as missas, ficando num espaço também de importância política e administrativa, como explica Gleilson Angelo, doutorando em geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Políticos e influentes aceitaram, com muita resistência, porque preferiam a Monarquia e como forma de protesto retiraram os nomes das ruas e colocaram números. Mas isso demorou pouco", acrescenta sobre o período da Proclamação da República.


Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Lucas Falconery

Fonte: Portal | Diário do Nordeste

Foto: Reprodução/Coleção Hugo Segawa