Segundo Alexandre Silveira, uma sobrecarga no sistema do Ceará ocasionou o desligamento do sistema

O apagão nacional desta terça-feira (15) foi ocasionado após um evento no Ceará, segundo informou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em coletiva de imprensa. Ainda não se sabe detalhes sobre a natureza da ocorrência, mas conforme Silveira, "uma sobrecarga no sistema do Ceará ocasionou o desligamento". 

"O que se sabe é que para que haja um evento dessa magnitude, há de se haver uma redundância de fatos relevantes. E um desses fatos já está detectado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e aconteceu mais precisamente no norte do Nordeste, mais precisamente no Ceará", comentou o ministro. 

O ocorrido interrompeu 16 mil MW de carga em estados do Norte-Nordeste. Já no Sudeste, Centro-Oeste e Sul foram 2,9 mil MW.

Silveira informou ainda que a energia demorou a voltar em estados nordestinos por conta da ocorrência inicial ter sido na região. O apagão aconteceu entre 8h29 e 14h49. 

O Diário do Nordeste demandou o ONS para mais detalhes sobre o caso, e o Operador informou somente que "as apurações dos motivos do ocorrido estão em andamento e irá gerar um Relatório de Análise de Perturbação (RAP) contendo todos os detalhes". 

Em nota, o MME ponderou que "um relatório com o detalhamento de todas essas informações devem ser divulgado dentro de 48 horas"

'VARIAÇÃO DE FREQUÊNCIA DESCONTROLADA', DIZ DIRETOR DO ONS

Em entrevista à TV Globo na noite desta terça, o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, informou que a frequência da rede elétrica no Ceará sofreu uma variação de frequência "descontrolada".

Na região do Ceará, as evidências, as nossas avaliações, dados e telemetria mostram que, naquela região, por volta das 8h30, houve uma variação de frequência descontrolada e não esperada. Isso nos leva a acreditar que ali possa estar contida nessa região elétrica a causa principal ou a casa raiz de todos os fenômenos que vieram a ocorrer

LUIZ CARLOS CIOCCHI - Diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O valor normal da frequência para não haver anormalidades é 60 Hz. O índice não foi verificado nesta terça, conforme o diretor-geral. Ele disse ainda que a perturbação dessa frequência ocorrida no Ceará pode afetar de forma gradativa componentes do Sistema Interligado Nacional (SIN).

“Quando você tem uma perturbação dessa de frequência, você normalmente tem uma série de componentes que podem estar agindo no sentido de provocar essa variação brusca e inesperada de frequência. E, nesse sistema de transmissão, onde tem várias linhas de transmissão e subestações, que estão interligando consumidores e geradores, para que essa perturbação seja propagada, e vai afetando, gradativamente, outros componentes, ampliando essa região elétrica”, ponderou Ciocchi. 

RELATÓRIO DA ONS DEFINIRÁ CAUSA 

Um relatório final sobre o incidente deve ser entregue pelo ONS nas próximas 48 horas. Após o documento apontar a causa efetiva, Alexandre Silveira informou que o Ministério de Minas e Energia vai trabalhar para "fortalecer o planejamento para evitar quaisquer outros fatos". 

Ainda em coletiva, o ministro comentou sobre a hipótese inicial de um evento na Subestação Xingu, que fica próxima a Belo Monte, no Pará, devido à magnitude do sistema. Entretanto, apurações mais detalhadas do ONS detectaram o problema em território cearense. 

O Ministério da Justiça foi acionado para ser instaurado um inquérito para auxiliar nos trabalhos investigativos, pois não foi descartada falha humana e nem ato doloso. 

MAIOR APAGÃO DESDE 2009 

Esse apagão elétrico afetou 25 dos 26 estados e o Distrito Federal e é o maior desde 2009, segundo informações do jornal O Globo. Houve uma queda de 25% na carga total do sistema, que começou a se recuperar por volta de 8h40. 

Segundo o ONS, houve uma ocorrência no sistema que provocou a separação elétrica das regiões Norte e Nordeste das regiões Sul e Sudeste, com abertura das interligações entre essas regiões. No caso do Sul e no Sudeste, a interrupção foi uma ação controlada para evitar propagação da ocorrência.

CRÍTICAS À PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS 

Durante a coletiva de imprensa sobre as ações do Governo Federal frente ao apagão, o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira teceu críticas contra a privatização da Eletrobras.  

Segundo ele, o setor elétrico é "extremamente estratégico e sensível". "Realmente os brasileiros e brasileiras perderam muito com a privatização da Eletrobras. E venho reafirmar nossas críticas a condução do conselho da Eletrobras depois que ela foi privatizada".

O ministro disse que só soube da renúncia do presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., pela imprensa. Ele informou ainda a "mudança abrupta" é um sinal de que a privatização da empresa tirou a "possibilidade de sistema elétrico harmônico". 


Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Matheus Facundo

Fonte: Portal | Diário do Nordeste

Foto: Reprodução/Agência Brasil