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Campo de Concentração que abrigou 16 mil retirantes no Ceará deve ter prédios e ruínas tombados

Publicada em: 21/07/2022 08:14 - Exemplo de categoria 1

As estruturas usadas, há 90 anos, em Senador Pompeu para aglomerar populações que tentavam fugir da seca, são os únicos vestígios físicos dessa época.

Ruínas e prédios que testemunharam um dos episódios mais tristes e emblemáticos da história do Brasil, em Senador Pompeu, a cerca de 270 km de Fortaleza, devem ser tombados pelo Governo do Ceará. O campo do Patu, que chegou a ter 16 mil retirantes, é um dos 7 campos de concentração criados no Ceará na seca de 1932. É o único cujos vestígios físicos ainda existem. No dia 26 de julho, o Estado definirá se mais um passo será dado na conservação desse patrimônio tão relevante à memória social do país. 

Os campos de concentração de retirantes da seca foram erguidos no Ceará em momentos históricos distintos: em 1915 e 1932. O de Senador Pompeu, assim como os demais, funcionou como espaço de aprisionamento para quem tentava fugir da miséria provocada pelos intensos períodos de estiagem.  

Essas estruturas foram espalhadas estrategicamente em rotas de migração no Ceará, próximas às estações ferroviárias. Além de Senador Pompeu, existiram também no Crato, em Quixeramobim, em Cariús, em Ipu e em Fortaleza - essa última com três áreas do tipo, sendo 2 na seca de 1932. 

A ideia, executada pelo próprio poder público, tentava impedir que os flagelados das secas chegassem a Fortaleza. No caso das experiências na Capital, evitar que os migrantes se espalhassem pela cidade. Juntos, os campos, conforme registros da imprensa da época, em abril de 1932, chegaram a ter 72 mil pessoas aglomeradas nos espaços em condições subumanas. 

Conforme a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult), a proposta da área técnica do órgão propõe o tombamento de uma poligonal de 885.523,60m².

No processo, devem ser tombadas 19 edificações, são elas: 

- 3 Casas de Pólvora; 

- 1 Armazém (ruínas); 

- 1 estação com plataforma (ruínas); 

- 1 Hospital (ruínas); 

- 4 Casas de Apontadores (1 ruína); 

- 1 Oficina (ruínas); 

- 1 Refeitório (ruínas); 

- 3 Casas dos Engenheiros; 

- 1 Inspetoria; 

- 1 Caixa D'Água (ruínas); 

- 1 Cemitério; 

- 1 Usina (ruínas). 

A Secult informa que “os imóveis eram usados como alojamento de pessoas tal como o descampado, já que as construções eram insuficientes para abrigar todo o pessoal”. 

Os prédios, distribuídos em quase 89 hectares, estão em distintos graus de conservação, explica o arquiteto e urbanista, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Rérisson Máximo, que atuou junto a outros profissionais do IFCE no auxílio técnico do processo de tombamento.

QUAL O EFEITO DO TOMBAMENTO?

A necessidade de preservar o local é demanda há décadas defendida por moradores da cidade, pesquisadores e historiadores. Em 2019, edificações da Vila dos Ingleses foram tombadas pelo município, após o Ministério Público do Ceará ter firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Prefeitura de Senador Pompeu. A proteção estadual é um reforço na tentativa de preservação. 

O conjunto arquitetônico cujo tombamento está em processo de finalização está localizado em uma área pertencente, à época, à Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (IFOCS), o atual Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS).

Conforme a diretora da Cultura de Senador Pompeu, Agna Ruth Martins, o DNOCS já manifestou o entendimento de que deve ceder a posse ao município, mas nada foi oficializado até o momento. 


Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins

Por Thatiany Nascimento

Fonte: Portal | Diário do Nordeste

Foto: Reprodução

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