Família de Vitória Chaves, que faleceu em fevereiro, cobra retratação pública e aciona Ministério Público
Duas estudantes de Medicina, identificadas como Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano, estão sendo investigadas após publicarem um vídeo no TikTok em que comentam, de forma irônica, o caso de uma paciente submetida a três transplantes de coração. A jovem em questão, Vitória Chaves da Silva, de 26 anos, morreu dias depois da publicação, em 28 de fevereiro, em decorrência de insuficiência renal crônica, no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo.
No vídeo, publicado em 17 de fevereiro, as alunas não mencionam o nome de Vitória, mas detalham o histórico clínico, sugerindo que um dos transplantes não teria sido bem-sucedido por suposta negligência da paciente em relação ao uso de medicações.

Em tom de deboche, Thaís chega a afirmar: “Essa menina está achando que tem sete vidas. Simplesmente uma pessoa que passou por três transplantes de coração. Ela recebeu três corações diferentes".
O conteúdo viralizou, alcançando mais de 200 mil visualizações. Um amigo de Vitória reconheceu o caso e alertou a família, que tomou providências legais.
A mãe, Cláudia Aparecida da Rocha Chaves, e a irmã, Giovana Chaves dos Santos, registraram um boletim de ocorrência e acionaram o Ministério Público de São Paulo (MPSP), além do próprio Incor.
A Secretaria da Segurança Pública informou que o caso está sendo investigado como injúria pelo 14º Distrito Policial, em Pinheiros. O MPSP declarou, em nota, que o caso foi encaminhado ao 4º Promotor de Justiça de Direitos Humanos da capital e está em avaliação.
Em comunicado, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), responsável pelo Incor, esclareceu que as estudantes são vinculadas a outras instituições de ensino e participavam de um curso de extensão de curta duração.
A FMUSP afirmou ainda que “repudia com veemência qualquer forma de desrespeito a pacientes e reafirma seu compromisso com a ética”.

Trajetória de Vitória
Vitória Chaves foi diagnosticada ainda na gestação com uma grave cardiopatia congênita rara, a Anomalia de Ebstein, que afeta a válvula do coração.
Aos quatro anos, deixou Luziânia (GO) rumo a São Paulo, onde, após mais de um ano na fila de espera, recebeu o primeiro transplante cardíaco em 2005, no Incor.
A jovem voltou a apresentar problemas dez anos depois, quando foi necessário um novo transplante em 2016, já que o coração estava funcionando somente com 3% da sua capacidade. Na época, o Profissão Repórter chegou a mostrar o caso.
Vitória passou a sofrer rejeição aguda do órgão em 2019 e ficou internada em um hospital do Distrito Federal. Mesmo assim, ela recebeu liberação médica e foi de ambulância fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Em 2023, Vitória precisou passar por um transplante de rim e também voltou para a fila para garantir um novo coração.
Ela fez o terceiro transplante em 2024. Em fevereiro deste ano, Vitória morreu por insuficiência renal crônica e choque séptico. Ela estava na UTI do Incor há um ano e 9 meses.
Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
Da Redação
Fonte: Portal | Diário do Nordeste
Foto/Imagem: Redes Sociais/Profissão Repórter
