Gravada pelos Mutantes em 1968, "Panis et Circenses" é uma das canções mais marcantes do Tropicalismo. Composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil, ela integra tanto o disco de estreia da banda quanto o álbum-manifesto do movimento, "Tropicália ou Panis et Circenses".
Uma das imagens centrais da música, "as pessoas na sala de jantar", tem inspirado debates sobre suas implicações e as críticas sociais embutidas na letra.
Segundo o portal Letras.mus, a música critica a apatia das pessoas em relação às transformações sociais: "as pessoas na sala de jantar, ou seja, da família tradicional brasileira, não estão preocupadas com nada disso. Elas se ocupam apenas de suas rotinas e distrações". Essa indiferença, no contexto da canção, reflete uma sociedade acomodada, presa a trivialidades e alheia às mudanças que ocorrem à sua volta.
Rodrigo Suematsu, em artigo publicado no Medium, afirma que a repetição do verso "pessoas na sala de jantar" reforça a ideia de uma vida limitada às necessidades básicas: "Elas se preocupam com trivialidades e passam pela vida sem maiores conquistas que não nascer e morrer". Ele também aponta para o simbolismo do circo na letra, uma referência ao espetáculo e à alienação, alinhada à crítica sobre a influência dos meios de comunicação de massa, como rádio e televisão.
Outro ponto destacado pelo site Jus Brasil é o contraste entre o eu-lírico e as "pessoas na sala de jantar". Enquanto o personagem busca liberdade e autoconhecimento, simbolizados pelo sol e pelos animais libertos, a burguesia (representada pela sala de jantar) segue indiferente: "Essas pessoas não necessitam enxergar ou se libertar de nada, pois estão no alto da pirâmide social e a situação do país é extremamente favorável para elas".
A interpretação marxista da música também é recorrente. O site Jus Brasil conecta a narrativa à luta de classes: "O eu-lírico seria a personificação do proletariado que começa a enxergar o quão ruim é a posição em que se encontra e a procurar meios de se libertar das amarras que o prendem". Já as "pessoas na sala de jantar" simbolizam a burguesia, que ignora os movimentos de mudança e acredita estar imune a transformações.
No desfecho da música, o ato de "matar seu amor" pode ser visto como um sacrifício ou ruptura necessária para o avanço. Contudo, como aponta Suematsu: "As pessoas da sala de jantar nada percebem, para elas nada muda, o mundo continua o mesmo". Esse descompasso evidencia a alienação das elites e a dificuldade de provocar mudanças sociais significativas.
🗒️ Pesquisa, Redação e Edição: Carlos Martins
✍️ Por Gustavo Maiato | Revista Whiplash.
🌐 www.passarefm.net
📸 Imagem/Reprodução